A Presença de escravos em Jacobina: Uma história invisibilizada ao longo do tempo

A cidade de Jacobina, no Piemonte da Chapada Diamantina, possui uma história profundamente marcada pela presença negra, ainda que, durante muito tempo, essa realidade tenha sido negligenciada ou até negada. No século XIX, a escravidão foi uma instituição central na organização econômica e social da região, contrariando a narrativa tradicional de que os sertões baianos não teriam sido locais de intensa presença escrava.
Em sua obra Os Negros em Jacobina (Bahia) no Século XIX, o pesquisador Raphael Rodrigues Vieira Filho desconstrói essa visão e revela a forte presença de escravizados na região, baseando-se em registros de compra e venda, cartas de alforria e documentos históricos.
Segundo o professor Raphael Vieira, a historiografia tradicional do sertão baiano frequentemente enfatizou a pecuária como a atividade dominante, argumentando que essa economia não dependia da mão de obra escrava, ao contrário das plantações de cana-de-açúcar no Recôncavo Baiano. No entanto, pesquisas documentais demonstram que a população negra de Jacobina esteve ativamente envolvida não apenas na pecuária, mas também em atividades comerciais e urbanas. O autor explora processos judiciais e registros administrativos que evidenciam como os escravizados atuavam em diferentes setores da economia local, muitas vezes negociando sua própria liberdade por meio de cartas de alforria.
Além da dimensão econômica, a obra destaca a luta dos escravizados por autonomia e melhores condições de vida. Os documentos analisados revelam práticas de resistência, que iam desde fugas até negociações com seus senhores para obter liberdade. O estudo também mostra como a segregação espacial em Jacobina foi sendo construída ao longo dos séculos, relegando os afrodescendentes a condições de marginalização que persistem até os dias atuais.
A pesquisa do professor Raphael Vieira também chama atenção para o processo de apagamento histórico da presença negra na região. Durante muito tempo, prevaleceu a ideia de que Jacobina teria poucos afrodescendentes, o que resultou em políticas públicas pouco sensíveis às demandas dessa população. No entanto, as evidências apresentadas pelo autor apontam para uma realidade oposta: a população negra foi essencial na construção social e econômica da cidade.
Dessa forma, Os Negros em Jacobina (Bahia) no Século XIX contribui significativamente para o resgate da memória histórica da população afrodescendente na região. A obra não apenas desmistifica a ideia da ausência de escravizados no sertão baiano, mas também reforça a necessidade de reconhecer e valorizar o papel dos negros na formação da sociedade jacobinense. Esse resgate histórico é essencial para compreender as desigualdades atuais e promover uma reparação justa aos descendentes daqueles que ajudaram a construir a cidade.
João Batista Ferreira – jornalista/radialista, estudante de História.
Este artigo foi baseado na obra Os Negros em Jacobina (Bahia) no Século XIX, do pesquisador Raphael Rodrigues Vieira Filho.