O encontro inesperado entre uma chef de cozinha e uma ave rara na Bahia
Não se sabe como aquela ave, que costuma medir 45 cm de comprimento, possui uma espécie de “bigode” sob o bico e apresenta hábitos noturnos, foi parar na cidade de Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano. Seu avistamento na natureza, por si só, já é um fato raro, mas ainda mais incomum foi encontrá-la em uma área urbana de um estado que sequer faz fronteira com aqueles em que já foi registrada por observadores: Amazonas e Roraima, ambos na região Norte do país.
Os guácharos, também conhecidos como ave-das-cavernas, pássaro-do-petróleo e pássaro-oleoso, são a única espécie de ave com hábitos noturnos que se alimenta exclusivamente de frutas. Habitam cavernas do norte do Brasil, mas também ocupam cavidades rochosas na Bolívia, ilha de Trinidad, Guiana, Peru, Venezuela, Colômbia e Equador. Assim como os morcegos, utilizam ondas sonoras para se localizar na escuridão. Seu canto peculiar, que lembra homens agonizando, fez com que fosse apelidado de diablotin em Trinidad, derivado do francês para “diabinho”.
No último dia 14 de novembro, a chef de cozinha e observadora de pássaros Débora Francisco, de 36 anos, estava em mais um dia de trabalho e se preparava para uma viagem à Chapada dos Veadeiros, quando recebeu fotos e vídeos de um casal de amigos. As imagens mostravam uma ave de cor canela com pequenas manchas brancas na plumagem, desconhecida tanto para o casal quanto para Débora.
Naquele dia chuvoso e ventoso no oeste baiano, os amigos da chef acreditam que a ave tenha colidido com o vidro da residência, caído na garagem e, em seguida, voado para uma árvore próxima. “Como meus amigos sabem que sou observadora de aves, sempre me avisam quando encontram alguma espécie diferente. Foi o que aconteceu”, explica Débora.
Embora tenha começado a observar pássaros recentemente, Débora conta com a experiência dos pais, também observadores. Sem conseguir identificar a espécie, ela recorreu ao grupo da família no WhatsApp, onde pediu ajuda aos pais e ao irmão, engenheiro ambiental.
“Quando recebi as fotos, não consegui identificar a ave, então enviei para o grupo da família. Meu pai, que já registrou mais de mil espécies, também não soube dizer qual era. Naquele momento, percebi que poderia ser uma ave rara. Ele cogitou inicialmente que fosse um guácharo, mas descartou a possibilidade por ser improvável encontrar um na nossa região”, conta ela.
Débora não perdeu tempo: saiu do trabalho e foi ao encontro da ave. Com uma câmera profissional, conseguiu registrar o guácharo, embora com certa dificuldade devido ao vento forte que soprava em sua direção. A chef notou que, apesar de a ave aparentar estar cansada, também parecia relativamente adaptada à árvore onde havia escolhido repousar.
Fonte-Trechos: Correio