Correio do Sertão: 108 anos do patrimônio cultural vivo em Morro do Chapéu

Correio do Sertão: 108 anos do patrimônio cultural vivo em Morro do Chapéu

Celebrar o aniversário do Jornal Correio do Sertão é celebrar a própria história de Morro do Chapéu. Fundado em 15 de julho de 1917 por Honório de Souza Pereira, o periódico não é apenas o segundo jornal mais antigo da Bahia, mas um verdadeiro símbolo de resistência, memória e identidade de Morro do Chapéu-BA, sendo um dos mais importantes patrimônios culturais materiais e imateriais de toda a região.

Segundo o IPHAN, patrimônio cultural é tudo aquilo que representa a identidade, a memória e os valores de um povo. Ele se divide em duas grandes categorias: o patrimônio material, formado por bens tangíveis como construções, objetos e documentos; e o patrimônio imaterial, composto por saberes, celebrações, formas de expressão e modos de fazer transmitidos de geração em geração.

Correio do Sertão: patrimônio material e imaterial

O Correio do Sertão é um exemplo raro de patrimônio cultural que une as duas dimensões. No aspecto material, o jornal preserva equipamentos históricos, como a máquina de linotipo importada da Alemanha, a impressora manual e a caixa de tipos móveis, além de um acervo de edições encadernadas desde 1917. O prédio onde funciona o jornal, com seu ambiente que remete a um pequeno museu, é testemunho físico da trajetória da imprensa no interior baiano.

Já no campo imaterial, o Correio do Sertão é guardião das memórias, tradições e histórias de Morro do Chapéu. Suas páginas registram festas populares, transformações sociais, conquistas e desafios da comunidade. O jornal é também espaço de expressão para escritores, poetas, cronistas e cidadãos comuns, sendo parte fundamental da construção da identidade local.

Uma história de coragem e perseverança

A trajetória do Correio do Sertão é marcada por coragem, abnegação e amor à terra. Honório Pereira, seu fundador, enfrentou o ceticismo de muitos, vendeu bens pessoais e trouxe o maquinário da Alemanha em uma verdadeira epopeia logística, que envolveu navio, trem e lombo de animal. Ele mesmo entregava os primeiros exemplares de porta em porta, numa cidade ainda pequena e com alto índice de analfabetismo.

Após sua morte, em 1946, o jornal seguiu sob a direção de seus descendentes, mantendo-se como uma tradição familiar e comunitária. Mesmo diante das dificuldades impostas pelo tempo, pela tecnologia e pela economia, o Correio do Sertão nunca deixou de circular, sendo fonte de informação, cultura e cidadania.

Modernização: a chegada à era digital

Em 2021, um novo capítulo foi escrito na história do Correio do Sertão. Tive a honra de desenvolver o site de notícias do jornal, dando minha contribuição para a sua modernização. Até então, o Correio do Sertão ainda não possuía uma versão online, e a criação do site permitiu que o acervo, as notícias e a tradição do jornal alcançassem novas gerações e leitores em qualquer lugar do mundo. Essa digitalização representa não apenas um avanço tecnológico, mas também um compromisso com a preservação e a difusão do patrimônio cultural de Morro do Chapéu.

Importância para a população e cultura de Morro do Chapéu

O Correio do Sertão é mais do que um veículo de comunicação: é um elo entre gerações, um espelho da vida local e um instrumento de valorização da cultura sertaneja. Por suas páginas, passaram relatos de festas, lutas políticas, transformações econômicas e sociais, além de registros de nascimentos, casamentos, falecimentos e conquistas da população.

O jornal também contribuiu para a formação de leitores, incentivou o gosto pela leitura e pela escrita, e serviu de referência para pesquisadores e estudiosos da história regional. Seu acervo é fonte preciosa para quem deseja conhecer a trajetória de Morro do Chapéu e da Chapada Diamantina.

Um patrimônio que precisa ser celebrado e preservado

Ao completar 108 anos, o Correio do Sertão reafirma seu papel como patrimônio cultural de Morro do Chapéu, da Bahia e do Brasil. Sua existência é motivo de orgulho para todos os morrenses e um exemplo de como a cultura pode resistir ao tempo, às adversidades e às mudanças tecnológicas.

Que esta data inspire novas gerações a valorizar e preservar não só o jornal, mas toda a riqueza cultural, material e imaterial, que faz de Morro do Chapéu uma terra única e cheia de histórias para contar.

Autor: Duda Félix

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