“Medo constante”: baianos relatam temor na estrada em viagens para fazer exames em Salvador

O ônibus da cidade Canarana, que caiu em uma ribanceira na BR-324, matando quatro pessoas na madrugada dessa segunda-feira (2) em São Sebastião do Passé, não é o único veículo a deixar o interior, diariamente, em direção a Salvador. Todos eles transportam baianos que precisam deixar o município de origem para ter acesso a exames, consultas e procedimentos disponíveis apenas na capital. Entre esses passageiros, um sentimento é comum: o medo constante.
Como os compromissos médicos são marcados, quase sempre, no início da manhã, as viagens nestes ônibus, regulados e fornecidos pelas prefeituras, acontecem durante a noite e a madrugada. Um horário delicado em muitos casos. Vera Benigno, 50 anos, é moradora de Itapetinga, na região sudoeste, mas vem para Salvador de maneira recorrente. Na capital, ela faz exames, consultas e procedimentos para reconstruir o tímpano.
O caminho entre a cidade e Salvador é longo: cerca de 470 quilômetros. O ônibus que a prefeitura fornece sai sempre à noite, o que a faz passar cerca de 10 horas na estrada durante a noite. “Nessa hora, a gente tem um medo constante, de tudo. Medo do motorista cochilar, dele correr demais, um animal aparecer na pista e até de ladrão porque, vez ou outra, assaltam ônibus como o meu, perto de Salvador. É uma agonia mesmo, mas quem precisa do tratamento tem que encarar”, afirma ela.
Outro problema apontado por passageiros é a situação dos motoristas, que não descansam o tempo necessário e, muitas vezes, sem o conforto adequado. Um motorista, que também pede para não se identificar, diz que tem uma rotina complicada, com um roteiro de nove horas de viagem entre a sua cidade e Salvador. Para piorar, ele faz essa rota três vezes por semana, indo e vindo.
Fonte-trechos: *Correio